quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

"morte, morte, morte"

“Não sabia que a cidade vista daquele velho edifício pareceria tão morta. O sol se escondia por trás de uma nuvem escura de chuva. A velha praça, qual costumava fumar, estava lotada. Os mesmos rostos. Me parecia tão engraçado olha-los dali, agindo de forma tão fingida. Como se suas vidas fossem mesmo boas, como se todos os sorrisos, toda a simpatia não fossem quimicamente induzidas.
Ouvia lá de cima

a música tocar baixinho. Era um sucesso de Raul, a minha preferida. “Canto para a minha morte”. Porém, um só versinho ecoava em minha mente; “Morte, morte, morte. Que talvez seja o segredo dessa vida.” Seria mesmo? Pois para mim não tinha segredo, ou ainda estiveras guardado. Não me aparecera. (…) Falar da morte sempre me foi fácil , tão natural. Mesmo tendo perdido alguém para ela, tendo-a visto levar meus sorrisos de manhã de sábado. Mesmo deixando um enorme buraco vazio todas as vezes em que o despertador tocava e me lembrava que deveria acordar.
Abri os braços como quem quer voar e seguir o mesmo caminho dos pássaros no céu e, pela primeira vez a leveza da liberdade invadiu-me. Queria abraçar o vento. Um sonho suicida. Pareceria mórbido se eu não me sentisse satisfeita, se a altura já não me assustasse, se as estrelas não estivessem tão próximas e o fim não parecesse tão belo.
Tudo voltou ao normal quando a música parou, quando a voz de Raul cessou, e a vida também acabara.

Porque sem você não fazia sentido algum.

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